segunda-feira, 26 de setembro de 2011

JUDAISMO E CIÊNCIA

Judaísmo e Ciência



O assunto do título tem sido, ultimamente,  motivo constante de menção acadêmica, na sociedade em geral e na comunidade em particular. Para não falar do resto do mundo, aqui no Brasil, há anos aparecem nomes judaicos como expoentes de carreiras científicas.  São pesquisadores nas áreas da medicina, da física, da astronomia, da química, da biologia, etc.  E, proporcionalmente, os números parecem  não condizer com a participação judaica na população brasileira.  No País, com uma população próxima de 190 milhões, os judeus aparecem como da ordem de aproximadamente 120 mil

Na procura de uma resposta para esta situação foi pesquisada a literatura existente, tendo por interesse profissional, restrito a mesma à área da Física. O encontrado é descrito a seguir.

Há algum tempo tem sido notada a disparidade imensa que existe nas estatísticas envolvendo, por um lado, a relação entre a população judaica e a mundial e. por  outro lado, a grande maioria da presença de médicos e cientistas judeus no mundo.  Outro dado causa espanto: judeus constituem aproximadamente 0,2% da população mundial e receberam cerca de 20% dos Prêmios Nobel concedidos  até hoje.



E não é somente nos Prêmios Nobel que os judeus sobressaem.  Vejamos outros exemplos:

Nos prêmios na área de Pesquisa Médica, temos: Lasker (33%), Gainer (26%), Wolf (41%), Gross Horwitz (40%) e Sloan Foundation (35%); nos prêmios de Química – Priestley (21%), Welsh (29%), Arthur C. Cope (29%) e Debye (26%); nos prêmios de Computação – A. M. Turing (26%), C. Shannon (37%), Von Neumann (44%) e John Bates Clark (67%); nos prêmios de Física – Max Planck (28%), Dirac (41%), Dannie Heineman (37%), Enrico Fermi (53%) e Átomos para a Paz (50%).

Fazendo uma média aproximada, judeus receberam cerca de 40% das premiações em ciência. 40% para 0,2%.  A  disparidade é grande.  Porque será?

Roald Hoffmann, Prêmio Nobel de Química de 1981, analisando o assunto, começa dizendo que duas afirmações devem ser eliminadas logo de início.  Uma é que judeus são mais espertos que os outros povos, e a outra é que cientistas são mais espertos que os outros. Vale a pena estudar estas afirmações. Será verdade?

Emile van Kreveld, da Universidade de Amsterdam, num artigo intitulado (traduzido) – “Judeus como Fornecedores Preferenciais nas Ciências Físicas” – observa que a participação de cientistas não é igualmente distribuída pelos vários grupos de uma população.  A grande abundância de físicos e matemáticos judeus é um fenômeno memorável.  Mas é também um fenômeno moderno.  Não é explicado porque razão, sem ter contribuído na gênese da ciência moderna, os judeus tiveram depois tanto sucesso naquela área.  E, ainda, embora considerando que os judeus tenham tido grande sucesso na ciência, levando em conta sua ocupação de cargos docentes nas universidades e os Prêmios Nobel recebidos, o percentual de intelectuais judeus dedicados às ciências físicas é modesto, quando comparado com o percentual de judeus dedicados aos outros ramos acadêmicos como: direito, economia, educação, humanidades, ciências da vida, medicina, farmácia e engenharia. A idéia que todos os judeus qualificados são atraídos para as ciências físicas é evidentemente falsa.

Então como explicar aqueles números?  Na realidade, existia uma prevalência na comunidade judaica (até cerca 1900 da e.c.) do respeito pelo estudo.  Não foi atôa que o Profeta Maomé chamou os judeus de Povo do Livro.  A sociedade judaica dava valor, não somente ao Livro, como aos sábios que os escreviam.  Uma grande transformação aconteceu entre a metade do século 19 e o fim do século 20.  Neste período a ciência se expandiu consideravelmente e criou inúmeras oportunidades de emprego.  Mudanças demográficas, redistribuição geográfica do potencial científico e o empuxo cultural contribuíram para o preenchimento daqueles “nichos”.  Mas todos estes fatores não poderiam ocasionar os efeitos observados sem a ocorrência de alguns fatores adicionais:  a admissão de judeus ao estudo superior, a concessão de direitos civis, acompanhados de melhoria da situação econômica. 

Antes do século 20 as únicas figuras da Física de origem judaica eram Carl G. J. Jacobi, Heinrich Hertz e Albert A. Michelson.  Jacobi, que foi um dos maiores matemáticos do século 19, desenvolveu o que passou as ser conhecida como a Teoria de Hamilton-Jacobi, uma reformulação da mecânica clássica que formou uma ponte crítica na transição, no século 20, para a mecânica quântica.  Hertz foi o descobridor das ondas eletromagnéticas. Esta descoberta, juntamente (mas tarde) com o trabalho teórico de Maxwell, deu origem ao desenvolvimento do rádio, da televisão, da comunicação sem fio e do radar.  Michelson, que ganhou o Prêmio Nobel em 1907, fez experiências importantes sobre a velocidade da luz nos anos de 1880, que provaram cruciais, mais tarde, para a aceitação da Teoria da Relatividade de Einstein.

Toda a evidência circunstancial aponta na direção da emancipação de uma minoria, que capitalizou seus ativos culturais muito eficazmente no âmbito de uma mudança política, social e econômica. Quando a nova ciência deslanchou, depois de Galileu e Newton, judeus não contribuíram substancialmente para seu desenvolvimento.  A primeira profissão intelectual na qual obtiveram uma posição firme foi a medicina, que foi derivada das universidades de Pádua (na Itália) e de Leiden (na Holanda), que foram as primeiras que aceitaram estudantes judeus para medicina.  No entanto, os principais centros para as ciências naturais surgiram na Alemanha, França e Inglaterra onde, no começo, judeus não eram aceitos nas universidades.  Assim, por muito tempo, a ciência, como profissão, não estava ao alcance de judeus, por razão da exclusão social. No entanto, é sabido que intelectuais judeus teriam estado muito interessados e estavam cientes dos avanços nas ciências naturais, o que pode ser deduzido da extensa literatura  que foi gerada sobre a adaptação que as novas descobertas científicas iriam requerer das interpretações dos Livros Sagrados. 

Com a emancipação social dos judeus na Europa no fim do século 19, principalmente na Alemanha, sua participação na ciência aumentou drasticamente no século 20, o que pode ser verificado pelo grande número de judeus agraciados com o Prêmio Nobel naquele período.

Abraham Pais, físico e historiador da ciência holandês-americano, em seu livro “Os Gênios da Ciência” (Oxford University Press, New York, 2000) cita que, dos 17 mais importantes físicos do século 20, 10,5 eram judeus (Niels Bohr contando como 0,5 em virtude de seu pai não ser judeu).

Judeus tiveram um papel preponderante no desenvolvimento da Física do século 20.  Qualquer estudo crítico dos mais influentes físicos da época incluiria, no mínimo, os seguintes indivíduos de origem judaica:  Albert Einstein, Niels Bohr, Wolfgang Pauli, Max Born, Hans Bethe, Felix Bloch, Lev Landau, I.I, Rabi, Eugene Wigner, John Von Neumann, Richard Feynman,  Julian Schwinger, Murray Gell-Mann, Steven Weinberg e Edward Witten.

Além de trabalhar na estrutura conceitual da física, os cientistas judeus estiveram também envolvidos no desenvolvimento de aplicações práticas.  Judeus como Lise Meitner, Otto Frisch, Niels Bohr, Leo Szilard, Eugene Wigner, Sir Rudolf Peierls, Hans Bethe, Victor Weisskopf, John von Newmann, Robert Oppenheimer, Edward Teller, Stanislaw Ulam, Alvin Weinberg, Hyman Rickover, Yuli Khariton, Vitali Ginzburg e Yakov Zeldovich (os três últimos na Rússia) tiveram papel dominante no desenvolvimento da energia nuclear.  O reator nuclear foi primeiramente concebido e depois co-inventado por Leo Szilard.  O reator a água pressurizada, PWR, o tipo de reator que domina tanto a propulsão naval com a produção de energia elétrica comercial, foi proposto por Alvin Weinberger, baseado em trabalhos anteriores de Eugene Wigner.

A tecnologia que suporta o surgimento da “era da informação” pós-industrial é baseada na microeletrônica e fotônica de semicondutores.  A base teórica da primeira é a Teoria de Bandas de Energia dos sólidos, desenvolvida principalmente por Felix Bloch e Sir Rudolf Peierls nos fins de 1920.  A base teórica da segunda é a Teoria Quântica da Radiação desenvolvida por Einstein em 1917.  O transistor foi inventado e patenteado nos anos de 1920 por Julius Edgar Lilienfeld.  Sua re-invenção 20 anos mais tarde ganhou para a Bell Telephone Laboratories o Prêmio Nobel (Schokley, Bardeen e Brattain), mas a Bell teve que abandonar todos os pedidos de patentes do “transistor de efeito de campo” (que domina a eletrônica moderna), em virtude dos trabalhos anteriores de Lilienfeld.  O primeiro laser foi demonstrado em 1960 por Theodore Maimann. A ressonância nuclear magnética (NMR), a tecnologia utilizada para o diagnóstico por imagem, foi descoberta durante os estudos de feixes moleculares por I. I. Rabin, em 1938.  I relógio atômico, um componente essencial dos sistemas de GPS foi proposto por Rabi em 1944 e demonstrado, pela primeira vez, por Harold Lyons em 1949.

Qual a força motriz por trás destes fatos?  Várias hipóteses são consideradas: uma delas menciona a hereditariedade, circunstâncias culturais e sociais.  Mesmo que consideremos que hereditariedade pode ter um papel importante na transferência na transferência de capacidade intelectual, ainda assim esta capacidade não pode gerar bons resultados sem ser complementada por conceitos que devem ser absorvidos do ambiente.  Uma mente inteligente, mas vazia, não consegue produzir alguma coisa útil, principalmente alguma coisa científica.  O preenchimento da mente vazia com conceitos relevantes sempre requer um grande esforço de estudo por parte da pessoa considerada.  Esta lei natural é sempre válida:  não há sucesso intelectual sem muito esforço.

Outra vertente estudada é: será a religião uma fonte para a ciência? Para muitos, judaísmo é tanto uma cultura como uma religião.  Como definiremos cultura neste caso?

Durante séculos, como mencionado anteriormente, a cultura do Livro foi inculcada nos jovens judeus, de modo a desenvolver raciocínio crítico e a indagação sobre tudo o que era intelectual e o que era escrito.  Esta tradição contrasta fortemente com a atitude da Igreja Católica que, por longo tempo, muito longo tempo, lutou contra a ciência, que sempre considerou como uma ameaça à Fé.  A tradição judaica, por sua vez, nunca se colocou em conflito com os grandes sábios.  Ela nunca experimentou um fenômeno Galileu. A maioria dos rabinos sempre se adaptou às descobertas da ciência, revendo sem hesitação suas leituras simbólicas e interpretações dos textos sagrados.  E a religião?

Vejamos dois casos famosos.  Baruch Blumberg (Prêmio Nobel de Fisiologia, 1976) descreveu seu sucesso científico à sua educação primária na Yeshiva de Flatbush (Brooklyn), onde desde a tenra infância, além da rigorosa educação secular, ele estudava a Torah no original hebraico.  Dizia: “Passávamos longas horas com mentores em comentários rabínicos sobre a Bíblia e estávamos imersos no raciocínio existencial do Talmud, numa idade na qual dificilmente poderíamos entender o seu impacto.

Curiosamente, uma tal cultura pode às vezes encontrar um eco entre pessoas onde jamais seria esperada.  Este conceito, o de um mentor constante, é encontrado no Departamento de Polícia de Nova York, onde o mentor é chamado de “rabbi”, embora a grande maioria dos policiais seja de origem irlandesa (católica).

Um outro caso, um tanto diferente, é do de Isidor Rabi (Prêmio Nobel de Fisica, 1944) onde pode ser observado um exemplo do que é o fato de ser possível no judaísmo – “Tomar liberdades com as Leis de D’us”.

Como de todo jovem judeu, de Rabi era esperado celebrar seu Barmitzvá numa tradicional cerimônia na sinagoga, após a qual deveria fazer um discurso alusivo à data.  Mas Isidor, depois de descobrir e ler livros sobre astronomia retirados da biblioteca Carnegie, já estava, naquela idade, questionando a existência de D’us e abandonando as práticas e rituais religiosos.  Depois de muita discussão com seus pais, foi acordada uma solução nos termos de Isidor:  uma cerimônia de Barmitzvá em casa.  Foi organizada uma festa em casa e os pais convidaram parentes e amigos.  Diz Rabi, “e êles me convenceram a fazer um discurso e eu o fiz, em Yidish.  Falei sobre “Como é Produzida a Luz Elétrica”, descrevendo em grande detalhe o filamento de carbono e como fazer o contato do filamento com o eletrodo de metal”. Possivelmente este foi o único caso conhecido em que uma dissertação científica foi considerada suficiente para entrar na comunidade religiosa.  Aqui vemos o elástico da religiosidade esticada ao máximo.  Mas, segundo Rabi, esta flexibilização era devida à sua mãe, a quem ele atribuiu seu subseqüente desenvolvimento científico.  Ainda na Polônia, antes da guerra, quando freqüentava uma escola religiosa, ao voltar para casa depois das aulas, Rabi, então com 10 anos, era perguntado pela mãe não como havia se saído nas aulas, mas sim se havia feito boas perguntas. A história de Rabi serve para ilustrar uma característica cultural da comunidade judaica – primeiro:  a erudição e o raciocínio são muito respeitados; e segundo:  regras podem sempre ser reconsideradas e negociadas.

Hoffman cita ainda que o método de estudo religioso judaico nos séculos de diáspora tinha  (e ainda tem hoje) uma acentuada semelhança com o que veio a ser, no futuro, a ciência européia.  A ciência, uma invenção da Europa Ocidental, é a canalização da curiosidade humana para a observação da natureza com o fim de conseguir conhecimentos confiáveis.  Na ciência, inspiradas divagações teóricas são, freqüentemente, comparadas com a realidade de nossos sentidos ou nossos instrumentos.

Para que o potencial para a ciência se materializasse no povo judeu foi necessário um fluxo criativo de assimilação. Durante séculos, através da história, até o presente século (século 21), ser judeu significava ser um judeu religioso praticante.  Isto, baseado na crença do Acordo entre D’us e Seu Povo, e pela existência de forças externas – a perseguição sem tréguas e o isolamento pelas nações.

E, então, as coisas mudaram.  Houve uma abertura na Europa e na América.  E através das paredes, agora porosas, os judeus extravasaram. E assimilaram.  Neste processo a maioria perdeu sua ortodoxia. E teve que achar uma nova identidade para substituir sua crença religiosa, pois não se perde milênios de tradição tão facilmente.  E os judeus encontraram um novo centro espiritual no ideal de justiça e serviço social. E isso foi um atrativo para a adesão de muitos ao socialismo.  Para outros judeus a  ciência foi um substituto para a religião.  A enorme maioria de cientistas judeus de sucesso não é  religiosa.

Para entender a diversidade geográfica dos processos de emancipação é preciso conhecer as divergentes e turbulentas histórias sócio-econômicas das comunidades judaicas nos vários países europeus.  Tolerados por sua importância econômica, mas sempre desprezados, os judeus, por sua capacidade empresarial (provavelmente também uma característica cultural), estimularam o crescimento econômico regional e acumularam, eles mesmos, uma boa porcentagem do PIB em suas mãos.  Com isso, aumentou a inveja e, por vezes tão intensamente, que explodiu em roubos, saques, linchamentos, confisco de propriedades, confinamento em guetos, expulsão e extermínio.

A Espanha, onde os judeus testemunharam seu desabrochar por volta do século 10, chegou ao limite de matar a galinha dos ovos de ouro, embora seus efeitos não fossem percebidos até muito depois da morte da galinha.  E a Espanha que, baseada nas riquezas tiradas de suas colônias, se tornara uma das mais poderosas nações de seu tempo, após a saída dos judeus rapidamente despencou.

Mesmo a constituição da França, baseada em “LIberté, Egalité, Fraternité”, que tornava a discriminação vergonhosa, não impediu que o anti-semitismo continuasse latente, como o caso Dreyfus bem o mostrou. Outro fato observado: a   prestigiosa Academia de Ciências de Paris, nas 4 décadas anteriores a 1870 incluía apenas 2% de judeus e  depois, por 3 décadas 10%, e depois de 1900, uma taxa de 6% de judeus, acima de sua participação na população total.

São números difíceis de explicar.

Nesta ocasião (fim dos anos 1800) o centro da atividade científica mudou-se para a Alemanha.  Por esta razão, a situação naquele país teve um significado maior nos processos sociais em relação à ciência.

A Alemanha, a Hungria, a Rússia e os Estados Unidos são considerados como os mais importantes países com respeito ao desenvolvimento da ciência moderna, embora por razões muito divergentes. Em toda a Europa Ocidental os judeus foram, desde a Idade Média, em particular depois da Primeira Cruzada, proibidos de possuir terras, ser aceitos nas sociedades profissionais (guilds), e muito menos aceitos em universidades (exceto em algumas, como mencionado anteriormente).  Eram sempre considerados como estrangeiros,  como pessoas pertencentes à Nação Judaica e, portanto, excluídas dos direitos normais de cidadania.  Depois de ser quase totalmente expulsos  da Europa Ocidental em 1500, sua migração reverteu por volta de 1650.  Os séculos seguintes mostraram um fluxo de leste para oeste, ocasionado pelos massacres pelos Cossacos, a invasão pelos Suecos, a Guerra dos Trinta Anos e a miséria decorrente de todos estes fatos.

A migração de judeus para a Alemanha produziu uma forte estratificação: sábios e rabis, mercadores de armas, artesãos, comerciantes, mendigos e, abaixo deles, as chamadas “pessoas deslocadas”. Aos poucos os mercadores de armas se tornaram ricos e influentes “Judeus da Corte” (1 a 2%) mas   ao menos 75% do total estavam reduzidos à pobreza.

Na Alemanha estes diferentes grupos somavam da ordem de 200.000 pessoas por volta do ano 1800.  No fim do século 18 os primeiros estudantes judeus foram admitidos na Universidade de Halle para estudar medicina, mas tinham que viajar para Pádua ou Leyden para completar seus estudos.  A urbanização do século 19 trouxe uma melhoria para a condição social dos judeus na Alemanha, de tal modo que, em 1870,  60% pertenciam às classes média e média-superior e 25% à classe média-inferior, e o número de indigentes foi enormemente reduzido.  Esta melhoria econômica criou a possibilidade do envio dos filhos para escolas de qualidade. E, após terminarem o Gymnasium, os jovens se esforçavam para entrar nas universidades, sendo medicina e direito as escolhas preferenciais.

Em geral, foi observado na Europa, entre os anos de 1650 e 1900, um processo gradual de emancipação econômica, com alternados períodos de aceitação e de expulsão de judeus, agora parcialmente assimilados, que tudo faziam para atingir melhores oportunidades sociais.  Passaram a ser mais encontrados como comerciantes, banqueiros, nas profissões liberais e nas profissões não reguladas por associações (guilds).

E, aos poucos, foram ocupando postos de ensino nas universidades, embora não sendo considerados permanentes, sendo-lhes apenas permitido atingir o cargo de Privatdozent.  Eram aceitos, mas desprezados.

Na Hungria, em comparação, os judeus estiveram muito melhor a partir de 1873, quando Joseph II de Habsburg lhes deu, oficialmente, a possibilidade de se assimilar. A Hungria foi, provavelmente, o país europeu  onde os judeus foram integralmente aceitos e integrados como concidadãos, com cerca de 350 sendo elevados à nobreza no fim do século 19.  Entre 40 e 50% dos banqueiros, artistas e intelectuais húngaros eram judeus.  Judeus egressos dos excelentes ginásios em geral entravam para universidades alemãs  para completar seus estudos. Muitos deles participaram do desenvolvimento da Física moderna, o que é atestado pelo número de Prêmios Nobel que receberam.  Grossman, Wigner, Von Neumann e Teller têm, muitas vezes, sua origem húngara ignorada, em virtude de seus nomes alemães.

Mais a leste, particularmente na Rússia, a posição dos judeus foi sempre mais difícil. Originalmente os judeus eram proibidos de morar na Rússia, exceto em duas cidades:  Moscou e São Petersburgo, onde pequenos grupos eram tolerados por suas atividades comerciais.  Mais tarde a Rússia adquiriu centenas de milhares de judeus quando a Polônia foi dividida.  Para resolver este problema a Rússia confinou os judeus em áreas específicas, seguindo-se a proibição de exercer determinadas profissões e de possuir terras.  Eventualmente, os judeus foram expulsos de Moscou e São Petersburgo e assentados em zonas rurais, fora de pequenas cidades.  Formaram os famosos “shtetls”.  A pobreza generalizada dos judeus na Rússia ocasionou uma enorme migração para os Estados Unidos antes de 1933.

Entre 1933 e 1938 aproximadamente 40% dos acadêmicos alemães (não somente judeus) também emigraram para os Estados Unidos.  Estas duas últimas correntes, russa e alemã, mudaram o centro da cultura científica para os Estados Unidos.

Em 1980 um jornalista russo, investigando a sorte dos judeus russos na América, achou que havia somente algumas dezenas de judeus russos na medicina e no direito, e quase nenhum em atividades de ensino.  Na primeira década de 1900 havia entre 400 e 600 médicos judeus russos em Nova York, juntamente com milhares atuando como professores e muitos outros em outras profissões. Em 1930, em Nova York, onde os judeus constituíam ¼ da população, eles eram 55% dos médicos na cidade, 64% dos dentistas e 65% dos advogados.

Depois de digerirmos todos estes números apresentados, fica a pergunta: - “Os judeus são mais inteligentes que os outros povos?”  Vocês se lembram do que foi dito no início, que o Prêmio Nobel Hoffman afirmava que era importante saber que os judeus não eram mais inteligentes que os outros?

A Superintendência de Educação de Nova York costumava realizar um teste da medida do QI dos alunos de todas as escolas públicas da cidade.  Em 1954 um psicólogo resolveu utilizar os resultados destes testes para identificar os alunos com QI igual ou superior a 170 (a média para bons alunos era considerada  sendo 110).  Dos 28 encontrados, 24 eram crianças judias.

Afinal, de onde vem a alta participação de judeus nas ciências naturais, em particular na Física?  Apesar de todas as hipóteses apresentadas, nenhuma responde efetivamente à pergunta.

Para terminar, no Brasil, a Física e a Matemática, antes somente fazendo parte dos currículos de engenharia, começaram a ser lecionadas em cursos específicos depois da II Guerra.  Em geral, jovens judeus procuravam carreiras nas quais pudessem prosperar financeiramente mais rapidamente. Poucos se dedicaram a carreiras acadêmicas.  Mesmo assim, surgiram, na Física, nomes como Mario Schemberg e José Goldemberg, em São Paulo.  No Rio de Janeiro, José Leite Lopes, Jaime Tiomno, Leopoldo Nachbin (este último na Matemática) e Jacques Danon.  A partir dos anos 1960, o número de alunos judeus nos cursos  de Matemática e Física aumentou consideravelmente.  Hoje, um grande número de judeus brasileiros ocupa importantes posições  de ensino e pesquisa em Física e Matemática, tanto no Brasil como no exterior.

Um  outro  assunto a considerar no judaísmo é porque  os dois extremos do “conhecimento” – a ciência e o misticismo – são tão procurados. 

Mas isto, como diria Kipling, é outra história.

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